Olá! De facto eu tenho andado realmente fugido deste sítio, são ossos do ofício... Mas a vida corre bem!
Hoje escrevo um pouco sobre a subida do Garcia ao Annapurna. Aquilo vai de vento em popa, melhor seria impossível. Então não é que o Artista (com A bem maiúsculo) mal chegou ao Campo Base no fim-de-semana passado está já preparadinho no Campo 4 para amanha se atirar ao cume?! Não fora um carregamento que fez para deixar um pouco mais acima algum material e arriscava-se a aviar o Annapurna em estilo Alpino, o que seria um feito de outro planeta.
Bem sei que para a maioria das pessoas aquilo que estou a dizer não parece nada de outro mundo.
Dirão: "está a subir, sim senhores... e não é isso que é suposto fazer?!".
Ao que eu respondo: "Não é bem assim!".
Eu explico: para se passar dos 4000 e qualquer coisa metros do Campo Base para os 8000 e alguns metros do cume é preciso estar-se bem aclimatado. Ou seja: ir para cima, vir para baixo, ir novamente mais para cima... Ou então vir de outro cume (menos perigoso) já aclimatado e atirar-se directamente à escalada. Foi o que o Garcia fez. Esteve no Pumori com o resto dos Checo-Turcos-Russos da sua expedição. Não foram mesmo ao cume do Pumori mas estiveram bem altos e conseguiram aclimatar bem.
Fico com a sensação que nem os checo-turcos-russos estão neste momento com pedal para acompanhar o pragmatismo e determinação do João pelo que ele está agora sozinho na escalada.
Explicada a parte da aclimatação, começam a levantar-se as questões logísticas: do CB ao Cume são habitualmente montados 4 Campos de Altitude. São locais onde se deixa material para depois, na tentativa de ataque ao cume se parar para fazer liquidos, repousar, mudar de roupa (para fato de cume - com plumas- a partir do C4).
Ou então, é-se João Garcia e faz-se apenas um depósito de tralha acima do CB com botas, tenda, fogão e gaz. Desce-se ao CB, dorme-se e bem pela fresca carrega-se os costados com tralha e mais tralha, passa-se naquele tal depósito, carrega-se ainda mais os costados e arranca-se que nem uma mula forte até ao Campo 2, não usando o Campo 1.
Ali chegado monta-se uma tenda e já a troucha fica mais leve.
Do C2 o Artista seguiu directo para o Campo 4 (ignorando o 3) e deixando atrás de si as piores dificuldades técnicas da montanha.
É no C4 que está neste momento o JG. Amanhã ataca o cume. Se o conseguir será o 10º humano a conseguir subir os 14 cumes com mais de 8000 metros do planeta sem recorrer a oxigénio artificial. Mas digo mais: será o gajo que faz a maior limpeza num 8000, chega sábado e na sexta seguinte está aviado. Se acontecer será um feito brutal, revelador que o JG é sem sombra de dúvidas dos tipos mais determinados, talentosos, pragmáticos e descomplicados bipedes que habitam a Terra. E acreditem que ali em cima é muito fácil complicar-se, o díficil é mesmo "to keep it simple".
Claro que se amanhã não correr bem seguem-se uns dias de repouso e uma valente espera por dias com boas condições climatéricas. Será mais uma ficha, mais uma volta e muita paciência. Faz parte do jogo.
Acredito que o João até tenha beneficiado do facto de a expedição da Edurne Pasaban (espanha) ter já equipado os mais dificeis troços da via, mas a verdade é que neste momento o JG está já acima dos espanhois que há coisa de um mês arriscam a vida por longos períodos pendurados na montanha. Contudo, acredito também que eles dirão: "que conho, tenemos lo mismo meteorologo, pero porque raio el portuga esta ya arriba de nosotros se ainda só llego hayer?! conho!"
Amanhã dou novidades fresquinhas. Até lá passem pelo blog oficial.
Força Johny!
1 comentário:
O feito do João é extraordinário mas ainda não é o da maior limpeza, o Patrick Berhault fez semelhante em 1988 no Shishapangma conforme se pode ver em:
http://books.google.pt/books?id=RjAInSNJkbYC&lpg=RA1-PA658&ots=1f3IS_6dKC&dq=patrick%20berhault%20Shishapangma&pg=RA1-PA658#v=onepage&q&f=false
Enviar um comentário