Os comboios são uma cena que me assiste. Ou melhor, os comboios são uma cena que eu muito gostaria que me assistissem. Infelizmente, por cá, a malta não acha o mesmo.
Veja-se o que era a ferrovia nacional há 30 anos atrás. Era bestial. E anulava um conceito que se inventou em Portugal (com custos elevadíssimos para a pessoas, diga-se) desde que Cavaco foi Primeiro: o de Interior.
Ao nível do por exemplo: ah e tal Castanheira de Pêra é Pinhal Interior. Pois sim, mas 45 minutos depois de aviar uma bica ao lado da Praia (com ondas artificiais) das Rocas, bem no centro da Castanheira, eu posso estar fazer carreirinhas em ondas à séria do Atlântico. O mesmo é dizer, havendo vias de comunicação perpendiculares ao mar o nosso rectângulo cruzam-se em hora e pouco, pá! Não precisa de haver interior. Interior é Madrid!
Desculpem lá, perdi-me aqui a ver como era bem esgalhada esta rede do antigamente e ao pensar como estão mal paridas (e estupidamente caras) as vias de comunicação que temos. O post era mesmo sobre Comboios e Bececletas.
A propósito deste artigo, lembrei-me de contar o sucedido aqui há um mês atrás quando tentei levar uma bike num comboio para o Fundão.
Portantos, falamos de uma terça-feira, a meio do dia. Em Santa Apolónia não estariam mais que 8-10 pessoas para ir naquele comboio. Entrariam algumas mais no Oriente, depois em Vila Franca e Santarém e a partir seria sempre a ficar mais leve até ao Fundão. Portanto, se há coisa que aquele comboio tinha era espaço, por oposição ao que já não tem desde a reformulação da linha: conforto, estores e bar.
Eu levava uma bike de estrada e dois sacos de rodas. Assim podia ensacar a roda de trás (cujo carreto poderia sujar) enfiar o triângulo traseiro e todo o sistema de transmissão (que poderia sujar alguma coisa) dentro do outro saco. Ficava tudo em pequenino e caberia naquelas prateleiras que há fundo das carruagens.
Mas e eu lá consegui levar o plano para diante? Não senhor! E porquê? Porque há cabecinhas tacanhas na CP que gozam muito mais por dar cabo da vida a um gajo do que por permitirem a alguém viajar com um volume maiorzito. Que por acaso era uma bike mas que até poderia ser uma outra macacada qualquer, ocuparia o mesmo volume.
Estava eu prestes a entrar no Comboio quando lá de longe vejo um tipo a acenar e:
- oi! oi! oi!! parou ai!!!
Eu parei e esperei que ele desfilasse até mim, mostrando quem é que mandava ali.
- onde é que julga vai?
- para o Fundão...
- não pode levar a bicicleta!
- mas olhe que eu já levei noutras ocasiões e tenho isto assim- assim para proteger e ensacar e o camandro
- não pode! Avisou na bilheteira que levava a bicicleta?
Menti: claro!!
Voltei a falar verdade: Mas mesmo que não tivesse avisado, quando um tipo leva uma bike pela mão à bilheteira e compra um bilhete para dali a 5 minutos, está bom de ver que pensa viajar com ela.
O gajo olha para relógio. Vê que ainda tem tempo. Faz um sorriso cínico e atira:
- vamos la ver então se avisou, ou não avisou!...
E eu concluí: já foste! David, tu és a fita-métrica que este Pica precisava para provar que tem um grande marsapo e que ali, em Santa Apolónia, ninguém mija fora do penico e muito menos leva bikes num comboio vazio!!!
Já que assim era e eu não ia mesmo a lado nenhum. Pelo menos com a bicicleta comigo não iria. O melhor mesmo era molhar a sopa e aliviar a frustação em quem, por capricho, a causou. Assim sendo, lá assumi a frente da procissão até à bilheteira e chegado lá pergunto ao tipo:
- então você vê-me de bicicleta na mão, vende-me o bilhete e não me diz que não posso viajar?
- eu não tenho de ver nada! Eu aqui não quero saber de mais nada, senão de lhe vender o bilhete!
- Claro que não quer! Isso sei eu. Você tá-se cagando para um cliente. Esta chafarica não é sua, ao fim do mês ganha o mesmo, porque raio é que me haveria de tratar bem?? Prestar um bom serviço não faz parte do seu serviço. Você só vende bilhetes, não é? Você vende os bilhetes e aqui (não disse, mas pensei, este minorca de bigode com um granda par de talegos ao pendurão) este senhor decide quem é que pode viajar com o quê. Tipo deus da carruagem. Ao menos devolve-me o dinheiro?
Silêncio...
Atirou-me com 16€ para cima do mármore que separa o cliente do funcionário da CP.
E pronto, é isto que temos por cá.
Nota mais séria: eu até consigo perceber que seria um problema se a malta toda viajasse de bike na mão na Linha da (densamente povoada) Beira-Baixa. Consigo perceber que seria complicado caso eu viajasse ao fim do dia, ou a uma sexta-feira ou até, quem sabe, numa véspera de feriado (tipo Natal ou Fim-de-Ano, sei lá). Mas como nessas vésperas de dias festivos os maquinistas até fazem greve, eu teria mesmo de procurar uma alternativa e não chateava ninguém com a minha burra!
Tenho dito. Bom fim-de-semana!
1 comentário:
Agora imagina, David, que em vez da "bececleta" levas um alien pela trela...Tb não podia ir, por "bececleta" e alien são da mesma família (para a CêPê), mas lá que te venderiam o bilhete, não tenhas dúvidas porque aliens não têm correntes, nem rodas. Pelo menos o Spielberg diz que não. Mas nós temos uma mentalidade tão tacanha. Meu Deus! E ainda...se isso significasse directamente mais valias em termos de segurança no emprego, havias de ver se te diziam alguma coisa.
Abraço.
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