terça-feira, fevereiro 12, 2008

Into the Wild

Estava extremamente curioso para ver este filme. Em primeiro lugar porque resulta de um livro escrito pelo Jon Krakauer, também autor do Into Thin Air. Este último conta o sucedido em 1996 durante uma expedição ao Evereste. O autor foi um dos sobreviventes de um dos dias mais negros da história do himalaísmo e veio lançar um amplo debate a nível global sobre as expedições de cariz comercial. Já lá vamos...

Quanto ao Into the Wild: lindo! Há já muito, muito tempo que nenhum filme me dizia tanto. Do ponto de vista estético o ITW é um regalo para os olhos. Nem que fosse só pelo exercício estético já valia a pena. Mas o resultado vai muito, muito além.

Talvez pelo facto de eu ser um tipo extremamente predisposto, disponível (e até apaixonado) por esta coisa do indivíduo encontrar na natureza, na privação de algum conforto (tantas vezes inútil) e no isolamento a sua essência eu tenha gostado tanto do ITW. Por todos estes ingredientes e pelo facto de me rever imenso nos valores do Chris McCandless o filme entra directamente para a minha gaveta dos mais queridos.


Chris McCandless foi um puto - um peregrino espiritual - que mal concluiu a licenciatura assumiu o enjoo que os valores impostos pela sociedade lhe causavam e deu de fuga. Ao longo de dois anos de viagem o Alexander Supertramp (nome que adopta) foi experimentando, crescendo, cruzando-se com outros viajantes e dando sempre conta disso aos seus diários. A certa altura da sua viagem chega finalmente ao Alasca (O seu destino) onde assenta arraiais e onde chegou à mais dura das conclusões, de que a felicidade, para o ser, necessita de ser partilhada, negando de certa forma o seu percurso. Mas enfim... eu acho que a viagem vale muito bem por si.


O corpo de McCandless foi encontrado dentro de um saco-cama, num autocarro abandonado em Stampede Trail. Jon Krakauer, um tipo que faz montanha e é cronista de várias revistas de outdoor tomou contacto com a história e acabou por fazer McCandless um ícone. Apesar de tudo, e como sempre nas histórias de Krakauer, há visões bem diferentes do mesmo feito. Muitos têm uma visão bem diferente da morte romântica de McCandless. Veja-se que ele não estava sequer consciente de que a menos de 1km existia um abrigo de emergência com comida. Há até quem diga que ele basicamente cometeu suicídio. Pese embora eu odeie profundamente o Jon Krakauer e o ache um mentiroso compulsivo prefiro agarrar-me (e faço-o de forma espontânea, sem sequer pensar muito nisso) à personagem que Sean Penn tão bem soube ter no seu filme.

Esta posta já vai longa e muito mais haveria a falar. Ainda assim deixo um nadinha da explicação para o meu ódio pelo Jon Krakauer. Como já disse, ele esteve em 1996 no Monte Everest. Nessa temporada de ascensão deu-se um dos episódios mais mediatizados (da parte negra) da história do Monte Everest. Krakauer, tipicamente americano, foi quem melhor partido tirou de tudo, inclusivé da morte do líder da sua expedição comercial (o neo-zelandês Rob Hall). Contudo, no seu livro há um visado especial: o Cazaque Anatoly Broukeev, que o americano acusa co-responsabilidade nas mortes que vieram a acontecer nessa situação.

Confesso que não li o livro (Into Thin Air) mas li bastante na net sobre o assunto e comprei depois o livro que o Anatoly Boukreev escreve em resposta. O currículo e a a sua coragem naquela situação são, a meu ver, notáveis. O cazaque foi o único tipo que salvou vidas e que arriscou, em plena borrasca, sair quatro vezes da tenda para salvar pessoas. Ao contrário dele, pese embora fosse um dos elementos mais experientes da expedição da Adventure Consultants, o Krakauer optou por tratar de si e ir para o espaço seguro. Esta atitude, per si, não me choca, acho-a legítima até. Agora desancar (mentindo com quantos dentes tem na boca) o único gajo que teve tomates para enfrentar os elementos e salvar algumas vidas é que eu acho muito, muito reprovável. E o americano fê-lo.

A troca de acusações veio expor muitos dos podres das expedições comerciais que vão enchendo, cada vez mais, as vias dos principais cumes do planeta. A troco de muito dinheiro, há indivíduos sem qualquer preparação que se lançam ao desafio colocando em risco a sua vida, dos seus guias e a de todos quantos circulam na mesma via.

O Anatoly Boukreev desapareceu no dia de natal de 1997, numa avalanche no Annapurna. Para mim, que sou um curioso desta coisas, é uma das figuras que mais respeito e admiro. No campo base do Annapurna a sua namorada escreveu:

“Mountains are not Stadiums where I satisfy my ambition to achieve, they are the cathedrals where I practice my religion.”

Talvez o Anatoly tivesse mais a ver com o McCandless que o próprio Krakauer pensasse...



3 comentários:

Sara Lambelho disse...

Ou como apontei no Moleskine sobre o Peaceful Warrior ...

It's not about the Destination, but the Journey.

Vi o ITW em Bruxelas, com direito a legendas em Françês e Flamengo. Fofíssimo!

Muito inspirador e também um dos culpados por eu estar onde estou agora. A banda sonora também merece um enorme crédito.

Beija gordinha, Amizade Rau.

dvaz disse...

Sim, sim, sim, ficou a faltar falar da banda sonora. Mas a coisa já ia tão longa...

Beijo canina + linda.

Fragmentos Repartidos disse...

Vi o filme pela segunda vez ontem e mais uma vez gostei mnito porque nunca é demais relembrar certos principios e valores que estão respresentados neste excelente filme que é altamente recomendável. Mesmo aqueles que não gostam de filmes mais parados, onde o mais importante é a história e outros pormenores, deviam ver esse filme.

Gostei de saber as informações adicinais aqui partilhadas. Não tinha conhecimento delas.

Cumprimentos