quinta-feira, novembro 03, 2005

Aneto


No passado fim-de-semana, aproveitando o feriado do 1 Novembro fui aos Pirinéus. A ideia era subir ao Aneto. Fui com um grupo muito numeroso, pessoal do Fundão, pessoal de Lisboa que já conhecia, amigos de amigos que ainda não conhecia. Tivemos alguns apoios que sempre serviram para algum material e ajudar na despesa de alugar um mini-bus que nos levasse até aos Pirinéus. Partimos na sexta-feira e no sábado à tarde chegamos a Benasque. Pelo caminho apanhamos uns quantos sustos com os drivers que nos calharam. Valentes artistas!!
Chegados à Chamonix dos Pirinéus rumamos à Barrabés. Uma loja que é uma referência no mundo do montanhismo. Fiquei decepcionado, as coisas eram mais caras que na web. Dali fomos a uma outra loja alugar crapons e piolets já que para atravessar o Glaciar do Aneto é obrigatório levar esses materiais.
Arrancamos de Benasque rumo ao Llanos de Besurta, uma zona verde a partir da qual não há estradas, apenas caminhos de montanha. Rumamos então ao abrigo La Renclusa. As obras ali já duram há bastante tempo, tipo Obras de Santa Ingrácia. Mas a coisa até está com muito jeitos de ficar porreira daquilo a algum tempo. Essa noite foi um avacalhanço à moda antiga no quarto do abrigo.

(abrigo Renclusa)

Na manhã seguinte, pelas 5 horas, arrancamos rumo ao Aneto. A coisa parecia estar a correr bem. O céu estava estrelado o pessoal estava todo a andar junto e a bom ritmo. Fomo-nos chegando à cota do Portillon. Aqui começou a coisa a mudar. O tempo piorou, ficou nevoeiro e o Henrique sentiu-se mal e foi obrigado a voltar para trás. Acabamos por nos perder, não vimos o acesso ao Portillon Superior e fomos dar ao Glaciar da Maladeta (um outro pico algo mais baixo que o Aneto). A partir deste instante houve quem achasse que estava a subida comprometida, ainda assim continuámos. Acabamos por dar com o Portillon Superior eram já 10 da matina e nós com 5 horas nas pernas (o raio da corda que trazia às costas estava cada vez mais gorda e pesada). Dai fomos avançando com alguns grupos espanhois pela frente. Atravessamos o caos de blocos e chegamos até meio do glaciar. Aqui houve um plenário presidido pelo único gajo num raio de uns km's que tinha GPS com os picos da redondeza correctamente marcados. Foi fácil chegar-se a uma decisão eram já 14 horas, nós tinhamos já 9 nas pernas e ainda havia que regressar. A visibilidade não era mais que de 15-20 metros e pronto...assunto arrumado! Toca a voltar para trás com o Aneto ali tão perto...quase que lhe sentia o cheiro. Tive pena. Mas em montanha, com aquelas condições climatéricas não se pode arriscar. Daqui a uns meses o Aneto ainda lá está e eu hei-de fazer-lhe a folha!!

O regresso é penoso. Nunca imaginei. Chegar ao Portillon ainda é naquela, as pernas já vão maçadas mas vão... dali para baixo é que é o diabo!! Só calhau, sobre calhau. Somos obrigados a meter travão com os joelhos durante umas duas horitas. A dôr nas articulações roça o insuportável, mesmo para um gajo que até é paciente! Devo dizer que ainda apanhei um belo susto. Na descida optámos por fugir ao caminho marcado pelas Marialvas e seguir recto para o Abrigo. Má ideia. A certa altura a neve acabava e aparecia algum gelo sobre os calhaus. Tive ali um pequeno resvalar do pé rumo ao abismo. A corda e restante equipamento - que por aquela altura já pesavam 2000 Kg - fizeram de embaladeira e cheguei a ver a minha vida mal parada. Veio a calhar a moral e as dicas do Jorge que fizeram com que eu largasse a porcaria do piolet e começasse a descer mais à tarzan. Resultou.

Chegados ao Abrigo, tivemos apenas o tempo de arrumar o resto do material e rumar à Besurta onde o minibus nos esperava. Nessa noite ficamos em Benasque e no dia seguinte rumamos a casa. Quase morremos pelo meio, mas isso o condutor que explique!!!!

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